"A garrafa verde escorregou-lhe das mãos. Lisa, muito polida, reluzente.
- A garrafa ideal – pensou
Sentou-se no cimo da duna, virado para o mar.
O céu azul confundia-se na linha do horizonte com a mancha escura das águas. Apesar do sol quente de Setembro, a praia estava deserta, as águas geladas, os veraneantes já regressados a casa. As conchas, os búzios, os mexilhões, podiam sair de novo tranquilos pela maré, reis e senhores do espaço que sempre fora seu.
Com a mão em concha, dedicou-se a ver deslizar a areia seca pelo gargalo da garrafa, como se de uma ampulheta se tratasse. Pelo meio, atirou lá para dentro algumas conchas minúsculas, que ficaram a brilhar, reflectindo o sol no vidro polido.
Um pensamento atrevido bailou-lhe no olhar e deixou-se rir. Iria valer a pena.
Só de pensar…
- Já vou, já vou…
Apertou o roupão caqui e desceu as escada aos tropeções. Sábado de manhã. Um dia sagrado. Será que a campainha da porta não deveria adivinhar que era sábado de manhã e, pura e simplesmente, não tocar?
Não… decididamente, não.
Quem seria, a uma hora daquelas?
Abriu a porta e a claridade cegou-a momentaneamente.
- Encomenda para a senhorita Sara…
O moço das entregas, todo aprumado na sua farda azul e cinzenta, esticava o braço, um pacote pequeno, cravejado de selos.
- Uma encomenda? Para mim?
Ele passou-lhe o recibo para assinar e entregou-lhe o pequeno pacote, pouco maior que um pacote de leite.
- Está bem, está bem… desde que não seja…
Levou-o ao ouvido, meio a sério, meio a brincar. Não… não fazia tic-tac… portanto, podia respirar aliviada.
Atirou-se para cima do sofá, mordida pela curiosidade. Ao invés de tentar ler o nome do remetente, atirou-se com energia a desfazer o cartão da encomenda. No interior, muitas tiras de papel, pedaços de plástico, bolinhas de ar… e uma garrafa. Uma garrafa verde.
Ficou a olhar para a garrafa.
Areia? Seria areia, aquilo no seu interior?
Foi então que reparou na pequena folha de papel, caída sobre o tapete da sala. Nem reparara nela, na excitação de abrir o pequeno pacote.
Desdobrou-a, numa curiosidade incontida.
“ Não é bem o mar… só um punhado de areia, para matar a saudade”
Retirou a rolha e entornou um pouco do precioso conteúdo sobre as mãos. Que saudades daquela sensação, dos minúsculos grãos de areia a rolar sobre a pele. Ainda cheiravam a mar.
Fechou os olhos e deixou-se estar ali sentada, por muito tempo.
Só ela… e o mar.
Nota: Dedicado à nossa amiga Sara, aqui sempre sentada à volta da fogueira…. E que em Munique, Alemanha, sente saudades do seu mar.
tags: saudades mar praia"Pois é, hoje tive uma daquelas surpresas... mesmo BOA!!! Como de costume aproveitei um momento descontraído para ir ao computador, como é hábito (praticamente diário) fui visitar o meu amigo Rolando, que tem o dom de escrever de forma viciante! Qual o meu enorme espanto quando encontrei este post (acima exposto) dedicado a mim!!! Fiquei radiante :D
Emocionada e com as lágrimas a dançarem nos meus olhos, até fiz a minha Mãe chorar quando o li em voz alta... o seu comentário foi de extrema alegria, assim como eu me estava a sentir... Sim tenho imensas saudades do mar, do calor e da praia... mas com amigos assim, até as saudades desvanecem e a vida sabe simplesmente melhor! Obrigado Rolando :)